quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O Benfica, sentido por Fernando Alvim

Este texto foi retirado do capítulo 14, do livro “Fernando Alvim-50 anos de carreira” (brilhante, hein! Para quem tem 33 anos!) da Editora A Esfera dos Livros. O Sou de um Clube Lutador teve a devida autorização de F. Alvim para o publicar. Desde já envio os meus agradecimentos.
Fernando Alvim, esse grande Benfiquista nascido na zona do Grande Porto (Mafamude), tem como profissão…várias actividades.
O texto retrata o sentimento partilhado por muitos que sofrem pelo Benfica. Como achei o texto bastante envolvente, publico-o para conhecimento geral. Aconselho a comprarem o livro e a divertirem-se.
BENFICA
Não sei como será ser de outro clube que não o Benfica e também não quero. É uma ignorância boa, esta: a de não querer saber; a de recusar logo à partida, o conhecimento de algo que não nos importa. Só me interessa o Benfica, confesso! E, se analisado com método, é fácil perceber pela fria análise morfológica do nome, que o clube que amo é uma instituição que pratica o bem, que pede, rogando, para que fique.
- Bem! Fica!
E o bem, como se ouvindo, fica mesmo. E com ele, como se uma mágica terra se elevasse, ficam, não todos os benfiquistas, mas sim todos os benfiquenses.
Existe um “ismo” no Benfica de uma magnitude rara, que não se confunde nem se imiscui com outros “ismos” mesquinhos que outrora serviram doutrinas, reformas várias e pessoas poderosas. O benfiquismo é um “ismo” dos bons, que se impõe precisamente não se impondo, que se percebe justamente ao não se perceber; e que, mesmo não se vendo, se sente e sofre, como se de um amor carnal se tratasse.
Quando se grita pelo Benfica é como se gritássemos em tenra idade pela nossa mãe, mesmo sabendo que está ali tão perto, só pela congénita vontade de gritar pelo que nos pertence, para que se saiba que não somos de nenhum outro, para que fique claro que lhe dedicamos a rouquidão que se esmorece na nossa voz.
Sou do Benfica desde que me lembro. E não tenho memória curta! É nela que cabem mil imagens que correm de calções agora mesmo. Lembro-me do Néné - “ali vai ele!” – do número sete, calções brancos, por vezes com risco ao meio, chuteiras novas, o filho bem comportado que qualquer mãe gostaria de ter tido. Do Carlos Manuel: dos livres do Carlos Manuel, da garra do Carlos Manuel quando pegava na bola a meio campo e, durante metros, a levava com ele, como se fosse um gigante, altíssimo, como se a levasse para casa, imponente, quebrando a barreira do som com a velocidade que lhe imprimia. E o inferno era aquilo: o início da corrida; a multidão a levantar-se; ninguém quieto por um instante que fosse – “oh senhor, sente-se lá para eu ver!” -; todos a falar com as mãos, a dizer:
- Passa a bola!
- Vamos, vamos!
- É agora, é agora!
- Força, força!
Ao que se seguia, não raras vezes, um ciclópico «aaaaahhhhh» num imenso coro de vozes, invariavelmente seguido de palmas e um sincrónico bater de pé. Ou, em outros casos menos felizes, apenas um bater de pé e um vendaval de nomes impronunciáveis.
Acho que já disse que sou do Benfica. E nunca é demais dizê-lo, como daquelas vezes em que não nos cansamos de dizer «amo-te» a uma pessoa, mesmo que esta já o saiba há muito. Porque nos dá gosto dizer «Benfica» como se fosse um «Amo-te» repetido até à exaustão. Porque ser do Benfica é dizer «amo-te» muitas vezes. Porque é o amor que nos une e nos cega e nos faz dizer que «não», que «não é penalty», quando todos sabem que foi.
- Não, não é!
Porque o amor vê mãos onde não existem. Este amor de que vos falo e escrevo agora, vê faltas que nunca foram cometidas, foras-de-jogo, cartões que ficaram por mostrar, culpas que nunca a nossa. Mas também vê o resto: os equipamentos; os jogadores a beijar a camisola como se fosse um país; o ritual da águia que dá a volta ao estádio sempre alerta para detectar novos perdedores, desculpem, predadores. E ainda o estádio, o velho e o novo; o luxo das cadeiras de agora e a glória das outras; o Eusébio; o Chalana; o Diamantino; o Veloso; e a luz intensa que nos olha a todos. A luz – estranha luz esta! O hino do Piçarra, a vaidade com que o canta, as bandeiras a dançarem vitoriosas, os golos – aquele e mais o outro, que ainda hoje recordamos -, as jogadas sinfónicas, os maestros de então, os golos; o chegar mais cedo para ficar horas seguidas a olhar o relvado; os golos; as horas que passámos a entoar cânticos, a discutir os jornais, a falar sobre o Benfica, a telefonar para os amigos de outros clubes para lhes fazer inveja com os nossos resultados, a esperar sempre; os golos; os cinco minutos à Benfica. Este inferno bom, o nosso, igual a nenhum outro. Este Benfica, este estado de alma, este amor rouco que não nos cansamos de repetir mil vezes.”

VIVA O BENFICA

5 comentários:

Anónimo disse...

Bem-vindo à blogosfera benfiquista e feliz 2009!

Abraço,
Captain Kid

Dylan disse...

É um orgulho ser nortenho como o Alvim e ter o Benfica como bandeira, como inspiração.

Viva o Benfica.

Miguel Nunes disse...

e NG PÁRA O BENFICA...


allez oh :)

ohp rules disse...

Antes de mais, boa sorte para este empreendimento a que te propôes.

O Alvim, é dos maiores Benfiquistas que andam na nossa praça e ao contrário de outros não tem medo de o ser só porque é nortenho, antes até, sente um orgulho desmedido por ter estas duas condições.

SAUDAÇÕES BENFIQUISTAS

Jotas disse...

Fantástico texto este do Ferando Alvim, retrata o mais puro sentimento do que é ser Benfica